sábado, 26 de outubro de 2013

Shigeki no Kyojin (Attack on Titan)


Imagine que você, seus pais e avós passaram a vida toda em uma cidade cercada por muros enormes. Você não sabe exatamente o porquê disso. Só sabe que é perigoso andar lá fora. Um belo dia, você olha pra cima e dá de cara com uma cabeça humana enorme. E ela quer lhe comer (literalmente falando). Isso é o começo de Shingeki no Kyogin (Avanço dos Titãs em português, Attack on Titan em inglês). E antes que vocês recomendem isso para seus primos pequenos, só adianto que este anime é para adultos.

Na história, a humanidade encontrou um predador natural. Gigantes de no mínimo 3 metros de altura. Alguns chegam a 10 metros. Os humanos que sobraram construíram uma muralha enorme de 50 metros de altura para se proteger. Funcionou bem por 100 anos...

O anime é cru. É tensão total do início ao fim do episódio. A humanidade tenta revidar, mas as baixas são grandes demais. Muitos deixam o pânico se instalar. Nas cenas onde os gigantes não aparece, existe uma tentativa por parte das pessoas de levar uma vida normal, apesar das muralhas. Mas sempre existe alguém incomodado com aquilo. Alguém que sempre quis ser livre e não pode. Alguém que acha que se deve enfrentar os gigantes e matá-los. Outros, querem apenas se esconder e levar suas vidas normalmente. De cara, já percebemos a carga psicológica que o anime traz. A relativa paz fez com que muitos esquecessem o real perigo. Muitos se acostumaram a viver presos. Aí tudo muda quando os Titãs aparecem e invadem a cidade. Os supostos soldados que deveriam estar preparados para enfrentar os gigantes se deixam tomar pelo pânico. Os corajosos acabam morrendo e suas mortes desesperam outros soldados. Ao povo, só resta correr e se proteger. No final das contas não existem homens, mulheres ou crianças. Só o que resta são presas lutando para sobreviver do ataque dos predadores.



Os gigantes são meio lerdos e muito misteriosos. Algumas perguntas ficam no ar quando você assiste o primeiro episódio: Se os gigantes só comem humanos, e se toda a humanidade está confinada há 100 anos, como eles não morreram de fome? Como eles se reproduzem, já que não têm órgãos reprodutores? E não mencionei os rostos dos gigantes. São psicóticos. Fazem você ter medo deles. Outros rostos são inocentes e puros, mas eles não mostram nenhuma reação. Graças ao belo traço do anime, as feições dos gigantes são um show à parte.



Outro aspecto interessante do anime é que não existe um humano super bad ass que mata todos os gigantes e toda a humanidade depende dele. QUALQUER UM pode virar petisco. O autor deixa isso bem claro nos primeiros episódios. Se você é um daqueles caras que gostam de torcer sempre pra uma só pessoa, esse anime pode não ser bom pra você. O anime é focado em um grupo de 10 pessoas, com 3 personagens principais. Mas eles na minha opinião não são o principal foco. Os gigantes roubam a cena todas as vezes. Com poucos episódios, você conhece basicamente os personagens. Mas os gigantes sempre surpreendem. A cada episódio novo, você conhece variações de monstros que te fazem pensar: "Lascou tudo." Mas aí surge um fio de esperança que é cortado logo no próximo episódio. O anime te amarra de um jeito que você não consegue parar de assistir, porque pensa que as perguntas serão respondidas no próximo episódio.

Acho que já lhe convenci de que vale a pena assistir esse anime. Só lembrando que ele é pra maiores! Pra facilitar a sua vida, segue abaixo o primeiro episódio (clica na imagem abaixo). Pode me agradecer depois de assistir. Eu vou entender se você se esquecer...




terça-feira, 22 de outubro de 2013

The Clash - Cut the Crap (1985)


É impressionante o quanto uma obra musical tão rica pode ser encerrada de maneira tão melancólica e ruim quanto à do grupo britânico The Clash. Tida como uma das mais originais bandas de cenário punk, o qual se caracterizava pelo lema "faça você mesmo" e pelas músicas mais simples, o quarteto foi vitimado por alguns fatores que acabaram por prejudicar a sua continuidade - o que foi refletido no seu último disco de estúdio, o fraquíssimo Cut the Crap.

Donos de uma discografia de qualidade ímpar, o Clash sempre mostrou-se um passo além das outras bandas punks, o que pode ser conferido principalmente no seu maior clássico, o LP London Calling. Letras maduras aliadas ao punk rock competentemente fundido com outros ritmos, como ska, reggae, rockabilly, jazz, soul, etc., mostraram que a banda capitaneada por Joe Strummer e Mick Jones (ambos vocalistas e guitarristas) era uma banda única.

O problema é que, ao longo dos anos, o relacionamento pessoal entre Strummer e Jones começou a se degradar, ao ponto de eles não se falarem mais. Além disso, o vício em heroína do baterista Topper Headon fez com que ele fosse demitido do grupo logo após a gravação do disco Combat Rock, fato este que entristeceu todos os outros membros do Clash, visto que ele era querido por todos. Nem mesmo a volta do baterista original, Terry Chimes, para a turnê do disco, contribuiu para que o ambiente melhorasse (no meio da turnê, Chimes saiu e foi substituído por Pete Howard).

Ao começarem as sessões do disco seguinte, o clima entre os membros da banda não poderia estar pior, chegando ao ponto de Jones ser demitido por Strummer e pelo baixista Paul Simonon - diz-se que eles foram influenciados pelo empresário do grupo, Bernie Rhodes. Para o lugar do guitarrista, foi trazida uma dupla de guitarristas - Nick Sheppard e Vince White -, o que possibilitaria a Strummer que ele se concentrasse somente nos vocais. Com o grupo transformado em quinteto, o Clash fez uma turnê na qual não foram tocadas músicas compostas por Mick Jones e privilegiou as músicas mais antigas, cortando as influências de outros ritmos (ou seja: menos ska/reggae, mais "três acordes") do repertório. Ao término da turnê, a banda anunciou que lançaria em breve um disco de estúdio.

Pelo que se sabe, as sessões de gravação foram caóticas, com Rhodes e Strummer brigando pelo controle do grupo. O empresário conseguiu forçar sua participação na produção e na composição das músicas. Os ensaios das músicas aconteciam com músicos de estúdio - somente Strummer e Rhodes participavam dessas sessões, enquanto o resto da banda ia depois para o estúdio gravar suas partes previamente tocadas pelos músicos contratados. E aí houve um problema: enquanto Joe Strummer queria que a banda voltasse às raízes com canções mais simples ao estilo dos dois primeiros álbuns do Clash, Bernie Rhodes tinha vontade de inserir elementos do cenário musical que ascendia na época, o new wave, e acabou vencendo a queda de braço contra o líder do conjunto - Strummer estava simplesmente cansado de tudo que acontecia nos últimos tempos com sua banda, além de ter perdido os pais recentemente.

Além disso, as músicas escritas por Strummer já não eram lá essas coisas: muitas delas eram simplistas demais, como se ele quisesse fazer músicas forçosamente simples. Porém, como não há nada tão ruim que não possa ser piorado, o que o produtor-empresário fez? Simplesmente descartou praticamente todas as gravações dos outros membros da banda, utilizando-se das pré-gravações feitas com músicos de estúdio e - pasmem! - baterias eletrônicas programadas (não esqueçam que ele queria deixar o som mais "moderno"), além de utilizar coros ao estilo "torcida de futebol" e mudar as intenções pretendidas pelo Clash para cada canção. O que poderia ser um disco com músicas fracas, mas divertidas, acabou por se tornar algo extremamente descartável, com uma produção horrorosa e que acabavam ressaltando os defeitos das músicas contidas no álbum. A primeira faixa, "Dictator", mostra bem isso: uma torrente de ruídos eletrônicos sobreposta a guitarras sintetizadas e gravações de noticiários de uma rádio mexicana, enquanto Joe Strummer canta uma letra boba que deixa o ouvinte espantado - esse era o mesmo cara que tinha escrito "London Calling" e "Tommy Gun", caramba! Duvidam? Ouçam a música aí embaixo e me digam se eu estou errado.


Não vou ser injusto: algumas faixas tinham potencial para ficaram, no mínimo, bacanas. Porém, graças à patetada do "produtor" (ênfase nas aspas) Bernie Rhodes, utilizando-se do pseudônimo "Jose Unidos" (pff!!!), elas ficaram simplesmente ruins. Inclusive há vários bootlegs de shows da época em que eles estavam ainda testando as músicas que entrariam em Cut the Crap e com arranjos "puros", sem as intervenções de estúdio; ao ouvir tais bootlegs, a sensação é que daria para sair um disco legal (mas ainda acho que não deixaria de ser o pior álbum da história do Clash). Ouçam uma versão ao vivo pré-estúdio de "Are You Ready for War?" e, a seguir, a versão oficial contida no disco, renomeada (infelizmente) para "Are You Red..y". A diferença é gritante, apesar da música ser a mesma!




Ainda bem que podemos dizer que o disco não é totalmente horrível, principalmente graças a "This Is England", a melhor faixa do álbum, a qual nem a produção conseguiu deixá-la ruim - não é exagero dizer que, se ela tivesse sido lançada em um dos discos anteriores da banda, ela teria se tornado um clássico. Outra faixa que pode ser considerada boa é "North and South", cantada por Sheppard, mas que é prejudicada pelo excesso de teclados.

(Nota: "This Is England" foi o primeiro single do disco, e tinha como lado B as faixas "Do It Now" e "Sex Mad Roar". Estas duas faixas são mais agradáveis de ouvir do que todo o Cut the Crap, visto que toda a formação da banda na época participou da gravação das faixas e não há os excessos de produção cometidos no LP. "Do It Now" também chegou a ser incluída como faixa bônus em relançamentos do disco em CD.)

O problema é que as duas faixas não foram o suficiente para salvar o álbum do fiasco. Assim que Cut the Crap foi lançado, a crítica malhou sem dó o trabalho, e o público odiou aquele pastiche de pós-punk com new wave com uma capa feiosa que tentava ilustrar a ideia de punk moderno pretendida por Bernie Rhodes. A própria banda se manifestou contrária ao disco, divulgando que o resultado final não era o desejado e que o disco seria regravado por eles - o que não aconteceu, já que Strummer, desiludido de vez com tudo, resolveu acabar com o Clash.

O desprezo pelo disco é tanto que ele não é mencionado no documentário The Clash: Westway to the World e em alguns lançamentos de coletâneas e box sets com materiais do grupo, como o box The Clash Sound System, lançado em 2013 e que contém todos os outros discos lançados pela banda, além de raridades e B-sides. A única coisa que se resgata do álbum em alguns lançamentos é "This Is England", incluída em The Essential Clash, Singles Box (juntamente com seus lados B) e The Singles.

É realmente uma pena que esse tenha sido o último álbum de estúdio do Clash, principalmente quando pensamos que Joe Strummer tinha retomado o contato com Mick Jones e estava escrevendo material para uma volta da banda. Um triste fim para a carreira de uma das melhores bandas já surgidas.

O setlist:
  1. Dictator
  2. Dirty Punk
  3. We Are the Clash
  4. Are You Red..y
  5. Cool Under Heat
  6. Movers and Shakers
  7. This Is England
  8. Three Card Trick
  9. Play to Win
  10. Fingerpoppin'
  11. North and South
  12. Life Is Wild
  13. Do It Now (faixa bônus)
A banda na época:
  • Joe Strummer - vocais
  • Nick Sheppard - guitarras, vocais principais em "North and South"
  • Vince White - guitarras (em "Do It Now")
  • Paul Simonon - baixo (em "Do It Now")
  • Pete Howard - bateria (em "Do It Now") 
Músicos participantes do disco:
  • Young Wagner - sintetizadores
  • Norman Watt-Roy - baixo
  • Fayney - bateria eletrônica, vocais em "Play to Win"
  • Bernie Rhodes - programação de bateria eletrônica


domingo, 13 de outubro de 2013

Black Sabbath - TYR (1990)


(Continuando a revisão de alguns textos antigos, trago agora uma resenha publicada em outubro de 2010 - devidamente editada e corrigida, claro!)

Uma referência para todas as bandas de Heavy Metal, mesmo que indiretamente - é dessa forma que o Black Sabbath é reconhecido. Tida como a inventora do Metal (há quem discorde, incluindo os integrantes), a banda inovou no cenário do rock ao distorcer seus instrumentos, falar abertamente de temas mais obscuros em suas letras (embora outros já tenham feito isso antes, o Sabbath foi mais descarado) e tocar um "troço" que ninguém nunca tinha ouvido antes. Pronto! Tony Iommi, Geezer Butler, Bill Ward e Ozzy Osbourne plantaram a semente de um novo gênero musical.

O fato é que, com o passar do tempo, a banda mudou sua sonoridade e, depois da saída do vocalista Ozzy Osbourne, houve um troca-troca intenso de integrantes que incomodou muitos fãs. O único que gravou todos os discos do Black Sabbath foi o guitarrista Tony Iommi. Citando somente vocalistas, passaram por lá Ronnie James Dio, Ian Gillan, Glenn Hughes, Dave Gillen, Ron Keel e Tony Martin, entre outros. Por causa disso, muitos fãs torceram o nariz e viraram as costas para os outros trabalhos da banda.

Chegamos ao ponto desejado! É fato que a banda, ao longo dos anos, ficou bastante descaracterizada, mas isto não quer dizer que a banda ficou ruim. Os discos produzidos nessa época de instabilidade foram bons (alguns nem tanto...), e os músicos que passaram pelo Sabbath se caracterizavam por serem ótimos instrumentistas/vocalistas. Dentre eles, posso afirmar com certeza que o mais injustamente criticado foi Tony Martin. Discorda? Vamos ao disco, então.

Alem de Martin e Iommi, a formação do Sabbath nessa época (1990) era composta por Geoff Nicholls (teclados), Cozy Powell (bateria) e Neil Murray (baixo). Depois de um álbum relativamente bem-sucedido (Headless Cross, de 1988), a banda grava TYR, que conta com a produção de Iommi e Powell, assim como o disco anterior. Ao contrário do que muitos pensam, TYR não é um disco conceitual que trate de mitologia nórdica. Esta, sem dúvida, se faz presente na bolacha, mas há também músicas que tratam de cristianismo e de czares (vai me dizer que czar é algo nórdico?).

Mas o disco é bom? Eu digo: É ÓTIMO! A banda foi bem em todas as músicas do álbum. TYR já começa com "Anno Mundi (The Vision)". Sua letra apocalíptica casa bem com seu arranjo, que se inicia com um dedilhado de guitarra e um "coro" (leia-se: o vocal duplicado de Tony Martin) cantando o verso "Spirictus Santus Anno Anno Mundi" repetidamente, enquanto entra Tony Martin cantando de mansinho. Do nada, Cozy entra com a bateria e o peso começa. Já nessa faixa, você vê que Martin canta muito.

Depois vem "The Law Maker", mais acelerada e se mantendo assim até ao final. Em seguinda, "Jerusalem" - pesada e cadenciada, lembrando o disco Headless Cross. A banda continua a mostrar que está bem coesa.

Aí chega "The Sabbath Stones" (minha preferida...). As palhetadas de Tony Iommi, embora sejam mais comedidas do que de costume, dão o clima perfeito para a música, assim como a bateria de Cozy Powell. Só escutando para saber a sensação...

Agora chegamos à mitologia nórdica propriamente dita do álbum! Trata-se da trinca formada pelas faixas "The Battle of Tyr", "Odin's Court" e "Valhalla". A primeira é uma vinheta instrumental, enquanto a segunda é, basicamente falando, um violão dedilhado acompanhado pelo vocal de Tony Martin apresentando a corte de Odin. Daí entra "Valhalla", que é mais ou menos no mesmo estilo de "The Sabbath Stones". Acho que foi melhor que a abordagem à mitologia nórdica se resumisse a apenas um trecho do álbum em vez de um disco inteiro, pois acredito que a banda não faria tão bem um álbum conceitual de temática viking.

A faixa seguinte é a balada "Feels Good to Me", que, segundo a banda, só entrou no disco para ser lançada como seu single. Musicalmente, não tem nada a ver com o resto do álbum, mas isso não desmerece a música. Ela é boa, sim, e deixa muita banda "baladeira" no chinelo.

Fechando TYR, Heaven in Black (a do czar... :P). Fecha o disco, além de contar com uma ótima introdução de bateria. Belo encerramento para o disco!

Resumindo: se você gosta de metal bom, mas diz que o Sabbath só presta com Ozzy, deixe de ser preconceituoso e ouça TYR! Apesar de estar musicalmente distante dos discos com a formação original, é um álbum extremamente competente na função de mostrar música boa.

A banda:

  • Tony Iommi: guitarras
  • Tony Martin: vocais
  • Neil Murray: baixo
  • Cozy Powell: bateria e percussão
  • Geoff Nichols: teclados

O setlist:

  1. Anno Mundi (The Vision)
  2. The Law Maker
  3. Jerusalem
  4. The Sabbath Stones
  5. The Battle of Tyr
  6. Odin’s Court
  7. Valhalla
  8. Feels Good to Me
  9. Heaven in Black