sábado, 17 de agosto de 2013

Angra - Holy Land (1996)


Obra-prima do metal - não há outra maneira de classificar o disco Holy Land. Uma obra na qual criatividade e amadurecimento musical andam de mãos dadas. E o mais legal: foi feito por uma banda brasileira.

Surgida em 1991, o Angra é uma das bandas mais importantes do país, responsável por aumentar a visibilidade das bandas de metal nacionais para o mundo - visibilidade esta conseguida pela explosão mundial do Sepultura. A banda formada por estudantes de música que tinha como vocalista o antigo vocalista do Viper, André Matos, começou fazendo um power metal mais tradicional, mas aos poucos foram acrescentando ritmos brasileiros à sua música, o que pode ser observado no seu disco de estreia, o clássico obrigatório Angels Cry, de 1993. No entanto, foi no disco seguinte que a banda mostrou todo o seu potencial e sua criatividade ao fundir vários gêneros e mostrar um "metal melódico" bem brasileiro mesmo.

Lançado em 1996, Holy Land é um álbum conceitual cujo tema é o Brasil na época do descobrimento - tal referência pode ser notada logo de cara, ao se visualizar a arte da capa. As faixas trazem uma fusão de power metal tradicional (com pitadas de progressivo) com ritmos brasileiros (ritmos indígenas, baião, MPB, etc.), não esquecendo a inclusão de passagens de música clássica, simbolizando a Europa da época. A mistura se mostra muitíssimo inspirada, gerando ótimas músicas, como "Carolina IV", "Nothing To Say", "The Shaman" e outras, com um desempenho ímpar por parte dos músicos.

Enfim, trata-se de um disco cuja audição é obrigatória e que mostra que é possível misturar heavy metal com ritmos folclóricos nacionais, sem ficar a dever em nada para as bandas europeias que fazem algo semelhante (misturar metal com as respectivas referências culturais de seus países). É uma pena que o power metal seja tão mal-visto pelos críticos (diga-se que com certa razão, pois é um gênero que se notabiliza pela falta de novidades na musicalidade, com bandas novas talentosas, mas fazendo "mais do mesmo", fechando os olhos dos outros para o que é feito pelas bandas mais inovadoras, como é o caso do Angra). Se você também tem um pé atrás com o power metal, dê uma chance a esse disco.

Setlist:
  1. Crossing
  2. Nothing to Say
  3. Silence and Distance
  4. Carolina IV
  5. Holy Land
  6. The Shaman
  7. Make Believe
  8. Z.I.T.O.
  9. Deep Blue
  10. Lullaby for Lucifer
A banda:
  • Andre Matos - vocal, piano, arranjos orquestrais, teclados e órgão
  • Kiko Loureiro - guitarras, backing vocals, percussão adicional
  • Rafael Bittencourt - guitarras, backing vocals, percussão adicional
  • Luís Mariutti - baixo
  • Ricardo Confessori - bateria e percussão

Led Zeppelin - Celebration Day (2012)


Muitas bandas e artistas são pilares do rock. Hoje é fácil chegarmos a esta conclusão quando falamos de um Chuck Berry, Elvis, The Who, The Beatles. E quando os antigos membros destas bandas resolvem se juntar para um último show ou turnê, o resultado pode não ser tão interessante. Quando o Queen resolveu voltar, a turnê com Paul Rodgers foi a única que poderíamos ver algum resquício do que foi o Queen. Nos últimos shows de Elvis, ele parecia um cover dele mesmo. E de péssima qualidade.

O Led Zeppelin acabou logo após a morte de John Bonham, em 1980. Após isso, cada integrante seguiu seu rumo, mas nunca se desligando totalmente da música. Robert Plant e Jimmy Page seguiram em trabalhos diferentes com outras bandas e parcerias. John Paul Jones buscou trabalhos como produtor e consolidou-se nos bastidores. Mas em 2007, eles estavam juntos para anunciar uma última apresentação para 20.000 felizardos em Londres, com o filho de John, Jason Bonham nas baquetas. Talvez essa apresentação seja para apagar de vez o fiasco que foi uma outra apresentação com esta mesma formação, em 1988. Mas a dúvida ainda permanecia: vai ser bom?

O show foi simplesmente arretado. Os vovôs não só provaram que ainda são o Led Zeppelin, como reafirmaram suas posições de Pilares do Rock. Tocaram todas os clássicos da banda. Junte isso com uma direção espetacular, com tempos praticamente iguais para os integrantes, takes no tempo certo com os ângulos de câmera corretos e temos um registro épico. Parece que as imagens refletem exatamente o que está acontecendo no palco, nos levando para dentro da Arena O2. Quando eu assisti no cinema, eu me senti lá. Eu fazia parte daquele público.

E devo reforçar que o ponto alto do show não foi Stairway to Heaven. Eu duvido que o Led tenha gravado uma versão de Kashmir melhor do que a mostrada na Arena O2.

Se você ainda não viu este show, não bobeie. Ouça e veja o Led Zeppelin 99% do que ele era no seu auge. Talvez seja um dos poucos casos de uma banda que voltou melhor do que quando acabou, nem que seja por uma única e última vez.

Setlist:

  1. Good Times Bad Times
  2. Ramble On
  3. Black Dog
  4. In My Time of Dying
  5. For Your Life
  6. Trampled Under Foot
  7. Nobody's Fault but Mine
  8. No Quarter
  9. Since I've Been Loving You
  10. Dazed And Confused
  11. Stairway To Heaven
  12. The Song Remains The Same
  13. Misty Mountain Hop
  14. Kashmir
  15. Whole Lotta Love
  16. Rock and Roll


quinta-feira, 1 de agosto de 2013

ZZ Top - Live from Texas (2008)


O ZZ Top é uma das bandas mais cultuadas no mundo. E não é para menos: os texanos, com seu som misturando rock, blues, boogie e otras cositas más, gravaram discos excepcionais ao longo da carreira, o que impediu que a banda ficasse conhecida somente como "aquela banda de barbudos". A maior prova da força do seu repertório é mostrada nesse DVD/BD gravado em sua terra natal em 2008.

A banda se mostra extremamente eficiente e ainda afiada, mesmo após quase 40 anos de estrada. O grande destaque é Billy Gibbons, com sua voz cada vez mais afetada pelos anos de bebida e charutos se encaixando perfeitamente no clima das músicas, além do seu desempenho na guitarra se mostrar algo estupendo. Como se garante o velhinho! Não bastasse isso, ainda tem uma sincronia perfeita com seu parceiro de barba, o competentíssimo baixista Dusty Hill - sincronia essa que não se refere apenas ao desempenho musical, mas também às coreografias (!!!). Completando o time temos o baterista Frank Beard - que não precisa ser barbudo por já ter barba como sobrenome - e seu trabalho simples, mas certeiro.


O repertório do show se concentra nos álbuns mais antigos do ZZ Top - só há duas músicas pós-1983 ("Rough Boy" e "Pincushion"). Se por um lado fica parecendo que a banda vive do passado, por outro se mostra uma decisão acertada para um registro ao vivo da banda, pois os álbuns lançados após o estrondoso best-seller de 1983 Eliminator não possuem a mesma força e coesão dos discos anteriores, apesar de todos conterem algumas faixas excelentes (com exceção do XXX, que é fraco mesmo!). Sucessos indispensáveis como "Got Me Under Pressure", "Gimme All Your Lovin'", "Just Got Paid" e "Jesus Just Left Chicago" mostram que o ZZ Top é uma banda maravilhosa com músicas matadoras que resistiram ao teste do tempo.



A produção de palco é muito legal, com iluminação bacana e imagens sendo exibidas em amplificadores. É daqueles shows que não basta ouvir - tem que ver. A interação de Gibbons com o público é bem bacana, e o público responde de forma bastante satisfatória.

Se você gosta de rock, ZZ Top - Live from Texas é item obrigatório na sua estante.

Repertório:

"Got Me Under Pressure"
"Waitin' for the Bus"
"Jesus Just Left Chicago"
"I'm Bad, I'm Nationwide"
"Pincushion"
"Cheap Sunglasses"
"Pearl Necklace"
"Heard It on the X"
"Just Got Paid"
"Rough Boy"
"Blue Jean Blues"
"Gimme All Your Lovin'"
"Sharp Dressed Man"
"Legs"
"Tube Snake Boogie"
"La Grange"
"Tush"

P.S.: "Pincushion" e "Heard It on the X" não estão incluídas na versão em CD.



Yamandú + Dominguinhos - Ao vivo no Ibirapuera (2009)






Eu havia prometido a mim mesmo parar se só postar aqui neste espaço música brasileira, em especial a instrumental. Isso porque eu sinto falta de mostrar minha opinião a respeito de músicas estrangeiras, que de certa forma são a base de qualquer ritmo brasileiro (com exceção talvez do samba ou bossa nova). Mas eu sinto falta, por exemplo de comentar álbuns do Led Zeppelin, ou ainda de minha banda internacional favorita (Beatles). Porém, dois fatos me fizeram mudar de ideia e imediatamente repensar essa promessa, quebrá-la e imediatamente começar a escrever esta opinião: A morte de Dominguinhos, a pouco mais de uma semana, e a opinião do meu pai dizendo o quanto este show era bom.

"Yamandú + Dominguinhos" é o resultado da gravação de um show realizado em 2009 no Ibirapuera, em São Paulo. A gravação ficou a cargo da TV Cultura, e a distribuição ficou responsável pelo selo Biscoito Fino. Basicamente, o show é um registro fiel das habilidades de dois músicos fantásticos, que trocam lições e experiências no palco. É muito interessante reparar como o som que os dois fazem preenchem o palco totalmente. Não faltou nada nesta apresentação. É claro que Yamandú recebe muito mais dicas do que Dominguinhos, mas a humildade do mestre pernambucano sempre permite que ele receba mais experiências do colega.

Tudo é muito bem dosado: as conversas, as marcações, as marcações, os momentos de improviso, de descontração e o repertório, que mistura influências e estilos dos dois artistas. Sempre imaginamos que a sanfona é instrumento típico (e exclusivo) do forró. Mas, músicos como Dominguinhos e Sivuca levaram a sanfona a um novo patamar, onde estes preconceitos não são mais aceitos. Neste show, o violão e a sanfona se complementam de forma bastante bonita e sem excessos. Até mesmo os momentos de "empolgação" de Yamandú, são bastante regados e coerentes com a música que está sendo executada. Nisso, o músico gaúcho evoluiu muito, já que, devido a sua base de música espanhola, ele costumava "passar do ponto"  em alguns improvisos. Dominguinhos, com sua serenidade ao tocar a sanfona, acaba sendo um referencial para Yamandú, que entendeu, neste show, que a "música deve ser tocada com o coração".

Só uma curiosidade: este show é a única apresentação em que eu vi Yamandú cantando. Ele antes de realizar a façanha pede desculpas à plateia, fala que não sabe cantar, aquele mimimi de sempre. E até que ele canta bem, para quem não é cantor...

Repertório

01 -  Molambo (Jaime Florence e Augusto Mesquita)
02 - Perigoso (Orlando Silveira e Esmeraldino Salles)
03 - João e Maria (Sivuca e Chico Buarque)
04 - Feira de Mangaio (Sivuca e Glorinha Gadelha)
05 - Chorando Baixinho (Abel Ferreira)
06 - Velho Realejo (Custódio Mesquita e Sadi Cabral)
07 - Odeon (Ernesto Nazareth e Vinicius de Moraes)
08 - Homenagem a Chiquinho (Dominguinhos e Guadalupe)
09 - Negrinho do Pastoreio (Barbosa Lessa) - Vocal de Yamandú Costa
10 - Tesouro e Meio (Luiz Gonzaga)  - Vocal de Dominguinhos   
11 - Doce de Coco (Jacob do Bandolim e Hermínio Bello de Carvalho)
12 - Estrada do Sol (Tom Jobim e Dolores Duran)
13 - Te cuida, rapaz! (Dominguinhos e Anastácia)
14 - Wave (Tom Jobim)
15 - Bagualito (Yamandú Costa)
16 - Bonitinho (Yamandu Costa e Dominguinhos)
17 - Lamento (Pixinguinha e Vinicius de Moraes)
18 - Escadaria (Pedro Raimundo)
19 - Asa Branca (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira)
20 - Prenda Minha (Folclore do Rio Grande do Sul)
21 - Pedacinhos do Céu (Waldir Azevedo)
22 - Tico-Tico no Fubá (Zequinha de Abreu)