segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Mestre Capiba por Raphael Rabello e Convidados (2002)



É Carnaval. Como bom pernambucano, gosto desta festa. Porém, não fui educado devidamente na arte de sair atrás de blocos nas ladeiras de Olinda, ou do Recife Antigo. Não me arrependo disso. Até sinto prazer em ver a alegria dos foliões pela TV enquanto descanso um pouco do corre-corre. Carnaval pra mim é sinônimo de descanso. E de ouvir frevo.

O ritmo que atualmente é Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO possui três vertentes bem distintas: o frevo de bloco, um ritmo mais lento, onde a poesia e o lirismo tomam conta das canções. Getúlio Cavalcanti é um dos maiores compositores deste tipo de frevo, e trouxe até nós canções como "Último Regresso"; o frevo de rua, geralmente com músicas instrumentais, cujo maior expoente é a música "Vassourinhas". Bastam os primeiros acordes tocarem para que a multidão exploda em alegria; A última vertente é o frevo canção. É um frevo animado também, com o adicional das músicas possuírem letras poéticas.

O maior compositor deste tipo de frevo foi homenageado.por Raphael Rabello e convidados em um álbum lançado em 2002. Trata-se de Capiba. O álbum "Mestre Capiba por Raphael Rabello e Convidados" foi o último trabalho de Raphael Rabello. Trabalho este assinado pelo selo Acari Records, patrocinado pelo Banco do Brasil, e teve sua venda revertida para o projeto "Ação pela Cidadania contra a Fome e a Miséria", do sociólogo Betinho, que inclusive, assina um dos textos do encarte.



O disco, claro reúne alguns frevos. Porém, o que faz este disco ser tão bonito é que ele retrata com arranjos completos e diretos um outro lado de Capiba. São canções, sambas e valsas, que retratam suas paixões e lembranças: O cais do porto, o sino da Igreja anunciando a missa, as cidades de Recife, Olinda e Igarassu, enfim, um lado mais intimista do mestre pernambucano e que Raphael conseguiu explorar (com as participações de diversos amigos de talento, como Chico Buarque, Gal Costa, Alceu Valença, Milton Nascimento, dentre outros) de um jeito bastante interessante. Pela primeira vez, Raphael atua simultaneamente como produtor, instrumentista e até cantor (na faixa Sino, claro Sino). Segundo seu irmão, o jornalista Rui Fabiano, foi o trabalho que ele percebeu uma maior dedicação do músico.

Raphael via Capiba como uma referência em sua infância. Isso porque o compositor pernambucano era amigo do avô de Raphael, o violonista José de Queiroz Batista. Devido a proximidade dos dois, José conhecia muito bem o repertório do amigo, e frequentemente tocava suas músicas nos saraus da família (juntamente com outras músicas pernambucanas), sempre tendo como ouvinte o pequeno Raphael.

Nem o homenageado nem o homenageador viram o trabalho pronto. O gênio do violão faleceu em 1995 aos 32 anos de idade, deixando como último legado este disco sensacional. Coube a irmã, Luciana Rabello,  finalizar o trabalho e lançá-lo, em 2002. Já Capiba, nos deixou em 1997. Ele que tanto incentivou e contribuiu para que Raphael pudesse realizar este projeto.

Quem ganha mesmo somos nós, que podemos ouvir este trabalho único destes dois gênios da nossa música.

Faixas:
  1. Recife, Cidade Lendária (part. Chico Buarque)
  2. Valsa Verde (part. Paulinho da Viola)
  3. Resto de Saudade (part. Gal Costa)
  4. Olinda, Cidade Eterna (part. Caetano Veloso)
  5. Cais do Porto (part. Maria Bethânia)
  6. Igarassu (part. Alceu Valença)
  7. Sino, Claro Sino (part. Milton Nascimento)
  8. Valsa Verde (Instrumental)
  9. A Mesma Rosa Amarela (part. João Bosco e Paulo Moura)
  10. Serenata Suburbana (part. Ney Matogrosso)
  11. Pot-Pourri (part. Claudionor Germano)
    1. A Pisada é essa 
    2. Linda Flor da Madrugada 
    3. Oh! Bela 
    4. Frevo e Ciranda 
    5. Morena Cor de Canela 
    6. Ai, se eu Tivesse 
    7. É Frevo Meu Bem




Nenhum comentário:

Postar um comentário